segunda-feira, 1 de março de 2010

Recomeça

Recomeça... / Se puderes, / Sem angústia e sem pressa. / E os passos que deres, / Nesse caminho duro / Do futuro, / Dá-os em liberdade. / Enquanto não alcances / Não descanses. / De nenhum fruto queiras só metade.
Miguel Torga, Diário XIII

E há frases que marcam, pessoas que ficam marcadas por essas frases. Essas pessoas que repetem as frases que ficaram marcadas, marcam-nos pelo facto de nos repetirem tão bonitas palavras e de nos fazerem pensar, e há ainda aquelas pessoas que nos vêm à memória quando lemos ou ouvimos tais frases que nos marcam... Essas pessoas de quem nos recordamos marcam-nos também.
Hoje foi um dia de emoções! Acordei apressada, fui para o colégio, pensei que fosse adormecer, mas entretanto tive autorização para ir "tomar o pequeno almoço". Surgiu o toque de saída, fui beber o meu café e fumar o meu cigarrito (as always), voltei para o colégio, de novo apressada. Ao chegar à sala e depois de sentar fui confrontada com estas palavras de Miguel Torga, ao descodificá-las, reflecti, tive um profundo momento de reflexão a meio de uma aula de Psicologia. Surge uma questão "Como se chama a loba da lenda do Rómulo e do Remo?"
Na minha cabeça surge curiosidade e inquietação, fui à procura de respostas e assim que me responderam senti uma enorme vontade de dizer a toda a gente qual o nome da tal loba.
Passada uma outra aula onde a minha vontade era de partilhar, com os meus colegas de turma, todas as histórias da Guerra Colonial que o meu avô me tinha contado, fui almoçar, na maior das tranquilidades.
Segui para a camioneta onde me concentrei no que iria fazer a seguir e onde comecei a consciencializar dos prós e dos contras. Saí da camioneta e andei até à paragem de um autocarro que me levasse ao destino. Sentia borboletas na minha barriga e não conseguia parar de rir de nada.
Cheguei ao destino! Um café e um cigarro para dar força e coragem e, depois, fui a primeira a entrar por aquelas portas de vidro. Íamos ter uma das seguintes respostas: "Já temos os vossos bilhetes!" ou "Pedimos desculpa, mas é-nos impossível ter os bilhetes a tempo.". O meu coração parecia bater a mil e a minha mochila escorregava pelas minhas mãos suadas. Ouvimos a pior das hipóteses de resposta, a segunda hipótese.
Ao assinar o papel comprovativo em como eles nos haviam reembolsado o dinheiro parece-me que o tempo parou, deixei de ouvir tudo, só conseguia ver a tinta da caneta a ficar marcada no papel, com a forma da minha assinatura. Fiquei branca, azul, verde, da cor que quiserem. Um grande sentimento de fracasso me subiu pela espinha (apesar de a culpa não ser, de todo, minha) e pareceu-me ouvir como que água a escoar pelo cano de um lavatório, era o meu trabalho de meio ano a ir por água abaixo!
Saí pelas mesmas portas, as de vidro onde conseguíamos ver para o outro lado, mas agora pareciam-me forradas de papéis onde estava escrito: "FRACASSO".
Voltei a sentar-me na esplanada onde havia tomado o café que eu pensava que me tinha dado força. Pus o cigarro à boca e não falei mais. Estavam 9 pessoas à minha volta, sei que estavam a falar, mas eu não conseguia ouvir nada de jeito, apenas apanhava umas palavras de cada um. Essas palavras, todas juntas, formavam uma frase sem sentido algum, então desisti!
Deitei o caramelo do cigarro fora com toda a minha força e, derrepente ouvi "Não fiques triste, Barbita!". Baixei a cabeça e mordi o lábio para evitar que as lágrimas que estavam prontas a competir umas com as outras saíssem da linha de partida.
"Não posso ir, mas assim que souberem uma resposta liguem-me, por favor!", disse eu. Eles foram tentar de novo mas as minhas esperanças já haviam esgotado. Sentía-me sem forças para sorrir para aqueles que estavam apenas a ser queridos comigo. Comi, mas não me soube a nada. Notava-se pela minha fala, ou pelo meu olhar, que a tristeza pairava.
Derrepente recebo uma chamada, atendi na maior das calmas, sem expectativas, e só ouvi "Adivinha só?", os meus olhos duplicaram de tamanho e subi a cabeça, deixei de estar toda curvada em cima da mesa e só disse "Sim?" e diz-me ela do outro lado "Eles aqui passam-nos os bilhetes na hora! Vem cá!". Ao ouvir estas palavras, o meu primeiro pensamento foi "Vou gritar de alegria até ficar sem ar!", não o fiz como é óbvio mas o suspiro mostrou essa minha intenção. Os meus pulmões aguentaram mais ar do que mandar três passas num cigarro. As minhas veias saltaram e os meus lábios esticaram-se de forma a conseguir mostrar todos os meus dentes, enquanto sorria.
A partir desse momento o meu dia mudou, o sol apareceu entre as nuvens outrora cinzentas. Alegria, alívio, descanso, euforia, felicidade e tantos mais foram os sentimentos positivos que este telefonema despertou em mim...
"Enquanto não alcances / não descanses." Foi a minha frase de hoje! E sou capaz de repeti-la a partir de agora até ao momento de adormecer! "Há males que vêm por bem." também me disseram hoje e ficou marcada.
Hoje, 1.º de Março de 2010, foi um dia que cobriu por completo a semana anterior. Acho que devo a agradecer às pessoas que me fizeram ouvir estas duas frases que ficaram marcadas no dia de hoje. Devo também agradecer a quem me faz acreditar que nunca devo desistir, a quem não me deixa argumentar as minhas teses negativas e me mostra o contrário destas, as teses positivas, que nos fazem sentir muito melhor. Às pessoas que me fazem ver o lado positivo das coisas e àquelas que estão sempre lá, para rir ou chorar comigo, àquelas a que... Sei lá!
Hoje estou assim, estou feliz e quero agradecer a estas pessoas que ficaram marcadas, por momentos ou frases especiais que fizeram ficar marcadas.
Bárbara Cruz

2 comentários:

Diana disse...

Tao fofinho Babi :D

Anónimo disse...

E sabes o que tenho a dizer-te depois de ter lido este texto e de de te ter visto desanimar e reanimar naquele dia?
"Põe tudo o que és, no mínimo que fazes." Porque, sabes, "Vale sempre a pena se a alma não é pequena."
E tenho dito, Bita. :)

Monte