quinta-feira, 10 de dezembro de 2009
Feelings
Contaram que uma vez se tinham reunido todos os sentimentos e qualidades dos homens num qualquer lugar da terra. Quando o Aborrecimento reclamou pela 3ª vez, a Loucura como sempre tão louca, propôs-lhe: Vamos brincar às escondidas? A Intriga levantou a sobrancelha intrigada e a Curiosidade, sem poder conter-se perguntou: Jogar às escondidas? O que é isso? É um jogo, explicou a Loucura, em que eu fecho os olhos e começo a contar de um à um milhão, enquanto vocês se escondem. E quando eu terminar de contar, o 1º de vocês que eu encontrar, ocupará meu lugar para continuar o jogo. O Entusiasmo dançou, seguido pela Euforia. A alegria deu saltos, que acabou por convencer a Dúvida e até mesmo a Apatia, que nunca se interessava por nada. Mas nem todos quiseram participar; a Verdade preferiu não esconder-se. Para quê, se no final todos a encontrariam? A Soberba opinou que era um jogo muito tonto (no fundo, o que a incomodava era que a ideia não tinha sido dela) e a Covardia preferiu não arriscar-se. “Um, dois, três, quatro...” começou contar a Loucura. A 1ª a esconder-se foi a Pressa, que como sempre, caiu atrás da 1ª pedra do caminho. A Fé subiu ao céu e a Inveja escondeu-se atrás da sombra do Triunfo, que com seu próprio esforço, tinha conseguido subir na copa da árvore mais alta. A Generosidade, quase não conseguiu esconder-se, pois cada local que encontrava parecia-lhe maravilhoso para algum de seus amigos: se era um lago cristalino, ideal para a Beleza; se era a copa de uma árvore, perfeito para a Timidez; se era o voo de uma borboleta, o melhor era para a Volúpia; se era uma rajada de vento, magnífico para a Liberdade. E assim, acabou escondendo-se num raio de sol. O Egoísmo ao contrário, encontrou um local muito bom desde o início; ventilado, cómodo, mas apenas para ele. A Mentira escondeu-se no fundo do oceano (mentira, na realidade escondeu-se atrás do arco- íris) e a Paixão e o Desejo, no centro dos vulcões. O Esquecimento, não me recordo onde se escondeu, mas isso não é o mais importante. Quanto à Loucura, estava lá pelo 999.999. O Amor ainda não havia encontrado um local para se esconder, pois todos já estavam ocupados. Até que encontrou um roseiral e carinhosamente, decidiu esconder-se entre as flores. “Um milhão!” Contou a Loucura e começou à procura. A 1ª a aparecer foi a Pressa, apenas a três passos de uma pedra. Depois escutou-se a Fé, discutindo com Deus no céu, sobre zoologia. Vibraram a Paixão e o Desejo nos vulcões. Num descuido, encontrou a Inveja e claro, pôde deduzir onde estava o Triunfo. O Egoísmo, não precisou ser procurado. Ele saiu sozinho disparado, do seu esconderijo, que na verdade, era um ninho de vespas. De tanto caminhar, a Loucura sentiu sede e ao aproximar-se do lago, descobriu a Beleza. A Dúvida foi mais fácil ainda, pois a encontrou sentada sobre uma cerca sem decidir de que lado se haveria de esconder. E assim foi encontrando a todos...O Talento entre a erva fresca, a Angústia em uma cova escura, a Mentira atrás do arco-íris (mentira, ela estava no fundo do oceano) e até o Esquecimento, que já tinha esquecido que estava a brincar às escondidas. Apenas o Amor, não aparecia em lugar algum. A Loucura procurou atrás de cada árvore, debaixo de cada rocha do planeta e em cima das montanhas. Quando estava a ponto de se dar por vencida, encontrou um roseiral. Pegou numa forquilha e começou a mover os ramos, quando no mesmo instante, se escutou um doloroso grito. Os espinhos tinham ferido o Amor nos olhos. A Loucura, não sabia o que fazer para desculpar-se. Chorou, rezou, implorou, pediu perdão e até prometeu ser o seu guia. Desde então, desde que, pela 1ª vez se brincou às escondidas na terra:
O AMOR É CEGO E A LOUCURA SEMPRE O ACOMPANHA.
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